Palavras que podiam ser minhas

"E também gosto muito do dia dos namorados. E de pessoas que se esforçam para tolerar outras por medo de terminarem sozinhas, e de mulheres que se ajoelham perante o medo de não serem mães, e dos homens que se curvam pelo medo de acabarem com uma brasileira, e de mulheres que são mães para não terem de ouvir as mães, e dos homens que são pais porque todos os amigos também são pais, e dos casais com filhos que só saem com casais com filhos porque mais ninguém gosta de falar da cor do cócó dos filhos, e dos centros comerciais que se enchem dessas pessoas e de corações só de peluche e de fitas vermelhas e de olhares tristes. E é dessa parte que mais me custa escrever, dessa trsiteza bafienta que se olha quando se vê o passado e se pensa no que se pensou no que seria o futuro. Ver os olhos que se cruzam na tentativa de sair daquela conversa, nos pedidos de ajuda que não se ouvem a cada passo e na falta de coragem, de audácia de se ser por inteiro. Sozinho, mas inteiro. Entristece-me, de verdade, estes dias de celebração obrigatória dos sentimentos de quem sobrevive por ter medo de viver. Apetece-me sempre o sarcasmo, a ironia fácil, dada de bandeja. Mas no fim o que me fica é sempre a tristeza daqueles não diálogos, daquelas não ternuras, daqueles não casais, daquelas pessoas fragmentadas entre o que quiseram ser e o que se sujeitaram ser. O medo há-de ser sempre o contrário do Amor."



Descobri este blog e recomendo. Muito bom mesmo!

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