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Porquê?

Já alguma vez vos aconteceu chorarem tanto, por tantos dias, que nem conseguem enxergar direito? Quando não estão a chorar, envoltos em ranho, taquicardia e desespero, os olhos ficam secos, só querem fechar.

Se fosse assim tão simples... Fechar. Desligar aquele botãozinho das emoções que me atormenta a alma e me turva o espírito.

Será que o destino realmente existe? Será que há quem nasça à partida destinado para grandes coisas e outros para coisa nenhuma? E, se assim é...porquê? Se o destino existe, existe também algo superior que nos transcende, "escrevendo certo por linhas tortas" e, se assim é, porquê?

Enquanto uns ganham a lotaria num piscar de olhos, outros lutam uma vida inteira sem nunca alcançar os sonhos mais mundanos. E porquê? Se à partida estamos destinados ao fracasso, para quê tentar? Para quê existir? 

Se acreditasse em Deus diria que este é talvez um dos planos mais maquiavélicos do Diabo. Dar esperança a alguém, só para lhe ser retirada no momento seguinte...e assim sucessivamente, dia, após dia, após dia, após dia, após dia... No fundo, uma vida de tormento, marcada pela rejeição, pelo insucesso e pela frustração de nunca chegar a lado nenhum.

Não me sentia assim há muito tempo, mas já devia estar a adivinhar...a vida estava a ganhar rumo, tinha objetivos, metas, desejos e planos, ...claro que alguma coisa estava para acontecer.

O meu mundo deu uma volta de 360° e a culpa recai novamente sobre alguém, o mesmo alguém, que deveria, supostamente, ser um dos pilares da minha vida.

Não quero ser mãe por variados motivos mas, um deles é sem dúvida o medo de não ser uma boa mãe. Dizem que mãe cuida, mãe protege, mãe guia... Gostava de perceber o que leva uma mãe a ser tudo, menos mãe. O que leva uma mãe a deixar simplesmente de querer saber? Não ter qualquer empatia e achar-se a dona da razão quando faz o que faz. Quando a vida parece encaminhar, ela volta e estraga tudo uma vez mais...sem qualquer aviso, sem qualquer motivo, sem qualquer finalidade. 

Um filho é para a vida e não é só um brinquedo novo com o qual se brinca durante uns anos e depois descartamos para ir viver outro enredo. Esta vida é uma novela mexicana de certo, mas com a vida das pessoas não se brinca, muito menos quando se trata de um filho. Ou, pelo menos, não deveria assim ser. Não sei, não consigo perceber e certamente nunca irei saber, pois não me iria perdoar se por algum motivo fizesse mal a um filho meu como a mim me têm feito.

E apenas porque sim, se estraga novamente uma vida. A mesma vida que se vinha a recompor, sarando aos poucos as feridas do passado, tentando ultrapassar e cedendo muito para o conseguir...e para quê?

Por muito forte, fria e desligada que possa parecer, acreditem, não o sou. 

É apenas uma fachada, uma capa de proteção a qual comecei a usar há muito tempo atrás. Afinal, se uma das pessoas mais importantes da minha vida me fez o que fez, o que impede qualquer outro de fazer o mesmo?

Gostava de ser essa pessoa forte, fria e desligada que aparento. Gostava de conseguir desligar esse botão e gostava de, quando digo que a odeio, sentir isso de verdade. Mas não consigo. Ao invés aqui estou eu. Quinto dia consecutivo sem conseguir tirar as lágrimas dos olhos e mais 368 dias que se avizinham até à mudança a que me obrigam.

Assim tenho estado. Só, em casa, com o coração a mil, onde a cabeça alterna entre o pensar em demasia e a completa ataraxia. Abri a porta à minha velha amiga insónia. Não consigo trabalhar, a fome é pouca e a vontade de continuar escasseia a cada hora que passa. Uma boa dose de filmes de terror têm-me mantido distraída durante umas horas.

Muitos me perguntaram ao longo dos anos o que é que os filmes de terror têm de tão especial para gostar tanto deles. Sinceramente nunca pensei muito sobre a resposta até agora. Os filmes de terror fazem-me esquecer o mundo real mas, ao mesmo tempo fazem-me continuar. Sabem aquele sentimento que temos quando vemos um bom filme e pensamos "dava tudo para ter isto"? Os filmes de terror têm o efeito oposto, como se, de repente a vida real não fosse tão "fucked up" quanto realmente é.

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Vir aqui e escrever o que sinto já me ajudou um pouco mas, sem dúvida, a minha maior ajuda e companhia tem sido mesmo o meu Cookie. Sinceramente não quero sequer pensar nisso, mas não sei o que faria sem ele.

Ele, que é sempre tão irrequieto, vem se deitar ao meu lado, como se a reconfortar-me estivesse. Dizem que os gatos sentem muito as mudanças de humor dos donos e tenho tentado ao máximo estar estável quando ele está por perto. No fundo, ele está a ser o meu maior suporte neste momento, sem sequer se aperceber. Os animais são de facto a melhor coisa do mundo 🖤

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Sabem que mais, quero ir ver o mar. Preciso de paz de espírito e o mar sempre me acalmou.

Prometi a mim mesma que quando tirasse a carta de condução a primeira coisa que faria era ir até Ofir ver o mar. Logo a seguir veio a Covid e, nos entretantos, esse sonho ficou por concretizar.


Sim...vou ver o mar.

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