Por que tenho de dar dez motivos concretos para não ter, quando não me conseguem dar um único motivo válido para ter?
Bem, hoje senti a necessidade de vir aqui desabafar... Tendo em conta alguns dos acontecimentos da minha vida, por vezes dou por mim a pensar nesta temática de ser mãe.
Quanto à justificativa mas óbvia que tenho é certo que é o facto de não gostar de crianças. Oh pah, é uma coisa...não sei explicar. Irritam-me. São chatas, inconveniente, não param quietas, são naturalmente más... Sempre que me deparo num espaço fechado com uma criança aos berros - algo que acontece mais vezes do que as que seriam consideradas normais para uma pessoa que não tenha um péssimo karma como o meu - fico logo agitada e a minha taquicardia dá de si.
Eu acho que é um motivo como qualquer outro e, tendo em conta do que se vê por esse mundo fora, eu consigo ter noção que não tenho paciência para criar um filho e eventualmente iria ser uma má mãe e iria descarregar as minhas frustrações num ser que não pediu para vir a este mundo.
Uns dizem que é egoísmo, eu acho que é totalmente o oposto.
Ter noção de quem sou como pessoa, do que quero e não quero, pelo menos num futuro próximo, ter noção do meu feitio, as minhas qualidades e defeitos e de como estas iriam influenciar essa relação. Ter noção de onde me encontro em termos financeiro e, principalmente, ter noção de onde me encontro psicologicamente falando.
Sinto sinceramente que se todas mulheres conseguissem ter nem que fosse um bocadinho desse awareness de si mesmas poderiam ser poupadas muitas tristezas, desgraças e arrependimentos. E isto vale tanto para quem não quer ter filhos, mas também para quem os quer ter.
Egoísmo é colocar um filho no mundo com a mera justificação "porque sim", "porque é o normal". Egoísmo é querer ter um filho sem as mínimas condições para o manter, a todos os níveis. Egoísmo é levar uma gravidez avante para depois abandonar um recém nascido num contentor do lixo, ou uns meses depois espancá-lo até à morte, ou uns anos depois violar. Isso sim é egoísmo. É cruel.
A célebre frase "não pediu para nascer" é de facto certeira.
Eu conheço o meu feitio e cada vez sou mais ciente desta minha ideia antiga. Eu sei que não iria ter paciência e que iria ser uma control-freak do pior. Iria querer tanto proteger e estar a par de tudo que ia sufocar o puto e, a ter o azar de ele ter o mesmo feitio que eu, só iria criar discussão. Daí ia surgir o desespero, a frustração, tristeza, raiva...
E mesmo que eu quisesse ser mãe ou que, após todas estas constatações de factos, ainda assim surgisse uma vozinha na minha cabeça a perguntar "mas e se...?" - que nunca aconteceu thank god - , todos estes motivos deviam servir para me demover dessa ideia. Para deixar de ser egoísta e não condenar à partida uma criança a um mundo cada vez mais cruel ondem nem eu seria um por seguro como mãe.
A verdade é que, por mais que pense no assunto - e acreditem, tento ao máximo não pensar - não consigo conceber como é possível uma mãe fazer o que a minha me está a fazer e achar que está totalmente certa e cheia de razão das suas ações.
E era algo que eu nunca me iria perdoar...ficar tão alucinada ao ponto de magoar o meu próprio filho a um nível tão...mau. Eu sei o que isso faz à cabeça de uma pessoa. Tens sempre aquele bichinho que te impede de tanta coisa - de confiar, de te abrires para o outro, de te deixares ir.. - e que te segreda baixinho "se a tua própria mãe, que devia ser a pessoa que mais te devia proteger neste mundo, te fez o que fez, o que impede qualquer outra pessoa de te fazer igual ou pior?".
E isso...eu não iria suportar se algum dia um filho meu se sentisse assim por minha causa.
Por vezes,
escolher não ter um filho não é egoísmo,
é totalmente o oposto.
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